Por João Arruda | Cáceres
No coração do oeste mato-grossense, o 66º Batalhão de Infantaria Motorizada, conhecido historicamente como o 2º Batalhão de Fronteira, se destaca como uma das unidades militares mais operacionais do país. Com quase um século de presença estratégica na fronteira com a Bolívia, o Batalhão, sediado em Cáceres (a 220 km de Cuiabá), desempenha um papel crucial na segurança e na soberania nacional.
Sob o comando do Coronel Alex Jesus Soares, a unidade conta com um efetivo robusto de cerca de 1.100 militares, entre carreira e variáveis, e mantém pelotões em pontos estratégicos como Corixa, Santa Rita, Fortuna, São Simão, Casalvasco, Palmarito e Convap – este último na divisa com Rondônia e o território boliviano. O trabalho vai além da vigilância, atuando em conjunto com os Órgãos de Segurança Pública (OSP) em operações e no intercâmbio de informações de inteligência.
Diplomacia na Fronteira: Homenagens Recíprocas
Apesar da vigilância constante, a convivência com a vizinha Bolívia é pacífica, marcada por gestos de respeito mútuo. O nome do Batalhão de Cáceres, por exemplo, é uma homenagem ao General Boliviano José Miguel Lanza, líder da Revolução Boliviana pela independência. O Coronel Alex Soares explica que essa demonstração de amizade e consideração foi retribuída: os bolivianos, por sua vez, batizaram o Batalhão em Guaiá-Mirim com o nome de Duque de Caxias.
Incidente de 1993: quando a Paz na Fronteira foi testada
Essa harmonia quase foi abalada em 1993, durante um episódio que marcou a história da unidade. Um grupo militar boliviano, os “Leopardos”, treinados por militares estadunidenses, adentrou o território brasileiro na Fazenda São José do Psoé, localizada no município de Vila Bela da Santíssima Trindade.
As patrulhas rotineiras do 2º Batalhão de Fronteira detectaram a presença estrangeira em solo nacional, comunicando imediatamente aos escalões superiores do Exército Brasileiro, que entrou em prontidão máxima (regime 01), preparado para expulsar os invasores. Após diversas tentativas diplomáticas para que os bolivianos deixassem a área pacificamente sem sucesso, a solução veio da ação militar.
O Batalhão efetuou sobrevoos de helicópteros para confirmar a invasão. Em seguida, o Pelotão de Operações Especiais (Pelopes), sob o comando do então Capitão Edmundo Palaia Neto, foi deslocado para a região com armamento de guerra. O cerco foi efetuado, e uma última advertência foi emitida: caso não recuassem, o Exército Brasileiro abriria fogo. Diante da determinação, os bolivianos retiraram-se.
Oficiais que participaram da missão, como o Sargento Aurizeth Sebastião de Oliveira – hoje inspetor militar em uma escola cívico-militar de Cáceres – e o Coronel Danilo Pereira de Santana – gestor militar pela Seduc nas escolas Frei Ambrósio e Mário Motta –, recordam o episódio. Ambos enfatizam que o bom senso prevaleceu, especialmente porque o efetivo boliviano contava com adolescentes, incluindo um oficial de apenas 17 anos.
Nova liderança no horizonte
O 2º Batalhão de Fronteira se prepara para uma transição de comando. No próximo dia 1º de dezembro, o General Luiz Duarte Figueiredo Neto presidirá a solenidade em que o Tenente-Coronel Rômulo Attanazio Jacob assumirá o posto, tornando-se o quadragésimo oficial a comandar o histórico quartel de Cáceres.
Despedida do coronel Alex: Um paraense de coração pantaneiro
Foto: Wilson kishi
O Coronel Alex Jesus Soares, nascido em Tucuruí (PA), filho de pai gaúcho e mãe curitibana, teve uma infância marcada por terras pantaneiras, residindo em Araputanga (MT) e Corumbá (MS) quando seu pai prestava serviços à Manati Mineradora, ligada à Glopar de Roberto Marinho e à então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.
Ao ingressar no Exército, seguiu sua carreira e agora se despede de Cáceres com um sentimento de dever cumprido e gratidão. “Foi uma honra ter servido em Cáceres, nesta área estratégica para o país, terra de um povo muito acolhedor. A cidade é muito agradável, recheada de histórias, é um verdadeiro livro de história a céu aberto. Levarei boas recordações deste povo brasileiro da fronteira”, finalizou o Coronel Alex, que agora parte para novas missões.
João Arruda é jornalista em Cáceres | Mato Grosso





