Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Forte alta de 12,2% da agropecuária garantiu o bom desempenho da economia no começo do anoArticle informationAuthor, Thais CarrançaRole, Da BBC News Brasil em São PauloHá 12 minutosA economia brasileira cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior, informou nesta sexta-feira (30/5) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE).O resultado ficou ligeiramente abaixo do esperado pelos analistas (1,5%), mas bem acima daquele registrado no quarto trimestre de 2024 (0,1% conforme o dado revisado, ante 0,2% divulgado anteriormente).Em relação ao primeiro trimestre de 2024, o avanço foi de 2,9%, abaixo do trimestre anterior, quando a alta foi de 3,6% na comparação anual.Uma forte alta de 12,2% da agropecuária garantiu o bom desempenho da economia no começo do ano, graças à safra recorde de grãos, com destaque para a soja e o milho.Ainda na ponta da oferta, os serviços cresceram 0,3% e a indústria recuou 0,1%, sempre em relação ao trimestre anterior.No lado da demanda, o maior crescimento foi registrado pelos investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), com alta de 3,1%, impulsionada pelo efeito não recorrente da importação de uma plataforma de petróleo da China.O consumo das famílias cresceu 1%, sustentado pelo bom desempenho do mercado de trabalho e pelo crescimento da massa de renda (soma de todos os rendimentos dos trabalhadores do país).Já o consumo do governo avançou 0,1% em relação ao trimestre anterior e o setor externo teve contribuição negativa no trimestre, com as importações (5,9%) crescendo mais do que as exportações (2,9%), um sinal da demanda interna aquecida.Apesar do bom desempenho da economia no início do ano, analistas esperam que a economia deve perder fôlego à frente.O que esperar para o restante do ano?A expectativa dos economistas é de uma desaceleração gradual para o PIB nos próximos trimestres.Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, explica que a própria sazonalidade da economia brasileira ajuda a explicar essa desaceleração.”Quase dois terços da safra de soja são contabilizados [no PIB] entre janeiro e março e a expectativa é de um aumento da safra de soja na casa de 15%”, observa.Ariane Benedito, economista-chefe da fintech PicPay, destaca ainda que a base de comparação forte do primeiro trimestre dificulta um crescimento mais pujante nos trimestres seguintes.E avalia que, na segunda metade do ano, deverão ser sentidos com maior força os efeitos dos juros elevados pelo Banco Central.Quanto aos riscos para o ano, os economistas avaliam que o principal deles seria um possível recrudescimento da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que provoque uma desaceleração mais relevante da economia mundial, impactando o preço das commodities.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Agravamento da guerra comercial entre EUA e China é um dos riscos à frenteMas eles avaliam que esse não é o cenário mais provável, diante dos reiterados recuos do presidente americano Donald Trump.No cenário interno, Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, avalia que a gripe aviária pode ter impacto para inflação e balança comercial, mas não para o PIB, já que uma eventual queda das exportações de aves seria compensada por maiores vendas no mercado interno, sem impacto relevante para a produção.Neste cenário de riscos limitados, os analistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que a desaceleração da atividade deve acontecer de forma gradual, com a demanda sustentada pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pelos gastos do governo, que tendem a aumentar à medida que se aproximam as eleições de 2026.Crédito, Agência BrasilLegenda da foto, Dados fortes do mercado de trabalho no início do segundo trimestre sugerem que a desaceleração da atividade será gradual, avaliam economistasPara Margato, da XP, os dados divulgados nesta semana sobre o mercado de trabalho no início do segundo trimestre reforçam essa percepção.Em abril, o Brasil registrou a criação de 257 mil empregos formais, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), bem acima da expectativa (170 mil). Já a taxa de desemprego ficou em 6,6% no trimestre encerrado em abril, menor do que o esperado e nível mais baixo para o mês da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. “São exemplos que reforçam nosso cenário de atividade resiliente, de uma demanda ainda aquecida e de um mercado de trabalho robusto”, diz Margato.Sobral e Margato destacam ainda o papel que os estímulos fiscais têm tido para sustentar a atividade econômica.O economista da XP cita como exemplos recentes desses estímulos o aumento do salário mínimo acima da inflação; o empréstimo consignado do trabalhador; a liberação de cerca de R$ 12 bilhões em saldos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); e o pagamento de R$ 90 bilhões em precatórios (dívidas da União já reconhecidas pela Justiça, sem possibilidade de novos recursos).Sobral lembra ainda que há outros estímulos a caminho, cujos efeitos deverão ser sentidos ao longo do ano, como a ampliação do programa Minha Casa, Minha Vida; o aumento do vale-gás; e a redução da conta de luz para famílias de baixa renda com baixo consumo de energia.
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