Crédito, REUTERS/Amber BrackenLegenda da foto, Trump e Carney se encontraram em reunião do G7 no CanadáArticle InformationAuthor, Vitor Tavares e Daniel GallasRole, Da BBC News Brasil em São Paulo e LondresHá 13 minutosMas as rusgas de Trump com um governo estrangeiro nesses seus primeiros seis meses de mandato não são exclusividade do Brasil, país que inicialmente tinha sido um dos menos atingidos por tarifas — recebendo a taxa mínima de 10% no tarifaço anunciado pelo americano no começo de abril. Em meio à sua guerra tarifária praticamente mundial, o presidente americano fez ameaças e críticas a governos de países como México, Canadá e China. Confira abaixo como cada país respondeu às ameaças de Trump e como estão atualmente as relações entre essas nações e os EUA.Canadá: ‘não estamos à venda’O anúncio ocorreu em meio a negociações entre os dois países para atenuar a guerra comercial iniciada assim que Trump assumiu a Casa Branca. Ao voltar à Presidência, Trump deu início a críticas públicas ao Canadá, acusando o país de ser “injusto” nas relações comerciais e de permitir o fluxo de fentanil para os EUA, ao não policiar suficientemente suas fronteiras.Além disso, Trump provocou os canadenses diversas vezes ao afirmar — às vezes em tom jocoso — que o Canadá deveria se tornar o 51º Estado americano. Em janeiro, mesmo antes de tomar posse, Trump postou um mapa dos EUA somado ao Canadá, como se fossem um só país, e uma bandeira americana.Em maio, numa visita a Casa Branca, o primeiro-ministro Mark Carney chamou atenção ao dizer a Trump que o “Canadá não está à venda”. Trump respondeu: “O tempo dirá.”A vitória dele nas eleições foi uma reviravolta, já que o partido de Carney (e do ex-primeiro-ministro Justin Trudeau) estava sendo considerado “morto e enterrado”. Pesquisas chegaram a mostrar durante meses o Partido Conservador, de Pierre Poilievre, com 20 pontos na frente.A campanha de Carney se beneficiou de sua retórica contra as ameaças de Trump de anexar o Canadá, afirmando diversas vezes que seu país “jamais” irá ceder aos Estados Unidos.Logo após assumir a liderança do país, o novo primeiro-ministro afirmou que o antigo relacionamento do país com os Estados Unidos, “baseado na integração profunda das nossas economias e na estreita cooperação nas áreas militar e de segurança, acabou”.E, em entrevista à BBC, Carney declarou que seu país merece respeito dos EUA e que as discussões econômicas seriam “nos termos” canadenses.Ainda em março, os EUA impuseram 25% de taxa sobre diversas exportações canadenses fora do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês) e 10% sobre produtos energéticos.Isso aconteceu mesmo após o então primeiro-ministro Justin Trudeau apresentar um plano de investimento para reforçar segurança das fronteiras. Na época, o Canadá buscou apaziguar o presidente americano prometendo 1,3 bilhão de dólares canadenses (cerca de US$ 950 milhões) para reforçar a segurança na fronteira e nomeando um “czar do fentanil”, após as alegações de Trump. Não foi suficiente para impedir as taxas.Como resposta, o Canadá retaliou com tarifas recíprocas para diversos produtos americanos, como bebidas, suco de laranja e cosméticos.Além da mais recente ameaça de tarifa de 35% sobre o Canadá — um aumento em relação à tarifa atual de 25% —, Trump impôs uma tarifa global de 50% sobre as importações de alumínio e aço, e uma tarifa de 25% sobre todos os carros e caminhões não fabricados nos EUA. O Canadá também aplicou tarifas recíprocas.A boa notícia para o Canadá é que a nova tarifa de 35% seguirá não se aplicando — ao menos por enquanto — aos produtos cobertos pelo acordo de livre comércio EUA-México-Canadá, que abrange a vasta maioria do comércio transfronteiriço. O episódio mais recente foi no fim de junho, quando o Canadá cancelou o imposto sobre serviços digitais (DST) que planejava impor a grandes empresas de tecnologia, após Trump ameaçar encerrar as negociações sobre a política.A Casa Branca afirmou que Mark Carney “cedeu” à pressão de Trump.México: diplomacia e negociaçãoO México foi um dos maiores alvos de Trump em seu primeiro mandato — com a promessa de campanha feita pelo republicano para construção de um muro que contivesse a imigração ilegal para os EUA.Agora no segundo mandato, a ofensiva de Trump contra o México tem sido semelhante à estratégia usada contra países como Canadá, Brasil e China: na forma de tarifas comerciais.Nos primeiros dias do novo governo Trump, quando países como a Colômbia e a China desafiaram sanções americanas e foram alvos de tarifas ainda maiores, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, escolheu uma tática diferente: de diálogo e negociação.Poucos dias depois do anúncio, as forças de segurança do México realizaram uma apreensão recorde de fentanil — demonstrando boa vontade do governo mexicano em acatar os pedidos de Trump. Sheinbaum também destacou ações do seu governo para evitar que imigrantes atravessassem a fronteira entre os dois países.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, foi elogiada por Trump — mas tensões comerciais entre os países ainda persisteMas suas conversas com o presidente americano e sua demonstração de capacidade de negociação evocaram elogios do próprio Trump — que chamou Sheinbaum de “uma mulher maravilhosa” com quem diz ter um relacionamento “muito bom”.Os elogios de Trump a Sheinbaum não impediram que ele continuasse sua ofensiva contra o México.”O México tem me ajudado a proteger a fronteira, MAS o que o México fez não é suficiente”, escreveu Trump na sua rede social.Sheinbaum voltou a adotar um tom diplomático, expressando confiança de que um acordo possa ser alcançado.”Acreditamos, com base no que nossos colegas discutiram ontem, que chegaremos a um acordo com os EUA e que, é claro, alcançaremos melhores condições”, disse Sheinbaum.”Temos clareza sobre o que podemos fazer com os EUA e sobre o que não podemos. E há algo que nunca é negociado, jamais, que é a soberania do nosso país.”China: retaliações agressivasNo começo de fevereiro, Trump anunciou tarifas de 10% contra todos os produtos chineses. No começo de abril, no dia que o presidente americano apelidou de “Dia da Libertação”, as tarifas contra produtos chineses haviam subido para 54%.Nas semanas seguintes, houve uma escalada em tarifas mútuas. Dois dias depois do “Dia da Libertação”, a China anunciou tarifas de 34% contra produtos americanos, em retaliação.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Xi e Trump ainda não se encontraram no segundo mandato do americano, mas existe grande expectativa para que as duas maiores economias do planeta cheguem a um acordo sobre tarifasNa semana seguinte, o nível das tarifas americanas contra a China haviam subido para 125% — o que foi respondido com a mesma alíquota pelos chineses contra os americanos.Um acordo foi anunciado por Trump no qual a China teria concordado em fornecer metais de terras raras a empresas americanas, enquanto os EUA voltariam atrás em suas ameaças de revogar vistos de estudantes chineses.No entanto, não houve anúncio sobre as tarifas recíprocas. A trégua comercial entre os países expira no dia 12 de agosto e não há definição sobre o que deve acontecer depois desse prazo.Dados oficiais divulgados esta semana mostram que a economia da China conseguiu crescer 5,2% (índice anualizado) no segundo trimestre do ano — o mesmo ritmo registrado no mesmo período do ano passado. No entanto, economistas acreditam que pode haver uma contração da expansão econômica chinesa, caso EUA e China não cheguem a um acordo definitivo sobre tarifas de importação.
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