Por Cleiton Túlio | Portal Mato Grosso
Teve início na manhã desta quinta-feira (07.08), no Fórum de Sorriso, o aguardado julgamento de Gilberto Rodrigues dos Anjos, pedreiro acusado dos bárbaros assassinatos de Cleci Calvi Cardoso, de 45 anos, e suas três filhas – Miliane Calvi Cardoso, de 19 anos; Manuela Calvi Cardoso, de 13 anos; e Melissa Calvi Cardoso, de 10 anos. Os crimes, que chocaram o país, ocorreram em novembro de 2023.
O processo tramita em segredo de justiça, e o réu participa da sessão por videoconferência, sendo interrogado diretamente da Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá, onde está detido desde a data dos fatos. A Justiça de Sorriso definiu que o julgamento não será transmitido, e o acesso ao público foi restrito, limitado a familiares das vítimas e partes diretamente envolvidas, como advogados, promotores e auxiliares da justiça.
O pai e esposo das vítimas, visivelmente abalado, chegou ao Fórum por volta das 8h, acompanhado do advogado da família, Conrado Borges. Em declarações à imprensa, Borges expressou a expectativa de um julgamento tranquilo e célere, com previsão de término ainda na madrugada. “As provas são muito fortes e contundentes. Não há dúvida de que foi ele quem cometeu, ele até mesmo confessou”, afirmou o advogado, ressaltando que o objetivo principal é que “a família e a sociedade tenham uma resposta com relação à pena dele”.
Sobre a ausência física do réu no plenário, Borges lamentou, mas reconheceu o direito do acusado. “É um direito dele, infelizmente, triste, porque queríamos que ele visse o desprezo das pessoas com o que ele cometeu. Uma pessoa, pelo histórico dele, nem sinta. Não é possível que um ser humano, se é assim que pode ser chamado, tenha cometido tudo o que ele tenha cometido nesse caso”, desabafou.
O juiz Rafael Panichella, responsável pelo caso, também manifestou otimismo quanto à conclusão do julgamento ainda hoje. “O processo correu com uma rapidez adequada. Hoje sai a resposta da sociedade em relação a esse julgamento. A expectativa é que, dentro do dia de hoje, até a noite, se finalize esse julgamento”, declarou o magistrado.
Panichella destacou ainda que a brutalidade do crime em Sorriso foi um catalisador para a recente alteração legislativa (Lei 14.994/2024), que tornou o feminicídio um crime autônomo e elevou as penas para delitos cometidos contra mulheres em contexto de violência, podendo chegar a 40 anos de reclusão. No entanto, o juiz esclareceu que a nova lei não se aplica ao caso de Gilberto Rodrigues, uma vez que entrou em vigor após a data dos crimes.
Por volta das 8h51, foi formado o conselho de sentença, composto por quatro homens e três mulheres. Os sete jurados sorteados comprometeram-se a manter a incomunicabilidade e receberam notebooks para acesso e análise das informações do processo, sob as orientações do magistrado.
O Ministério Público imputa a Gilberto a qualificadora de feminicídio, dada a forma como os crimes foram praticados, com menosprezo e discriminação à condição de mulher. Além disso, os quatro homicídios são qualificados por crueldade, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, e cometidos para assegurar a execução e impunidade de outro crime. Dois dos crimes foram contra menores de 14 anos, e há uma causa de aumento de pena pela prática dos delitos na presença física de ascendente e descendente das vítimas.
O Crime e antecedentes do réu
Gilberto Rodrigues dos Anjos foi preso em flagrante na mesma manhã em que os corpos das vítimas foram descobertos. O pedreiro trabalhava em uma obra nas proximidades da residência e, conforme investigações, observou a rotina da família antes de agir. Ele invadiu a casa na noite de sexta-feira, 24 de novembro de 2023. Ao ser confrontado pela mãe, que tentou defender sua família, Gilberto matou Cleci e, em seguida, as três filhas. Após os assassinatos, o criminoso cometeu estupro contra três das quatro vítimas. Uma peça íntima de uma das vítimas foi encontrada em posse do acusado no momento de sua prisão.
Este não é o primeiro registro criminal de Gilberto Rodrigues dos Anjos. Em maio deste ano, ele foi condenado a 17 anos de prisão pelo homicídio do jornalista Osni Mendes Araújo, ocorrido em 2013, em Mineiros, Goiás. Outra condenação recente, em março de 2025, foi de 22 anos por crimes cometidos contra outra mulher dois meses antes da chacina de Sorriso. Em setembro de 2023, em Lucas do Rio Verde, ele invadiu a casa de uma mulher, a estuprou mediante violência e grave ameaça e tentou matá-la para evitar a denúncia. A vítima conseguiu reagir, e a mãe dela, que tentou socorrer a filha, também foi agredida. Gilberto fugiu após os gritos por ajuda.
*Com informações do SóNotícias