Início GERAL Lô Borges, alma do Clube da Esquina, morre aos 73 anos

Lô Borges, alma do Clube da Esquina, morre aos 73 anos



A música brasileira perdeu uma de suas vozes mais emblemáticas na noite do último domingo (02.11). Salomão Borges Filho, o Lô Borges, cantor, compositor e figura central do movimento Clube da Esquina, faleceu aos 73 anos em Belo Horizonte. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos, conforme boletim divulgado pela assessoria de imprensa da Unimed.
Lô Borges estava internado desde 17 de outubro em um hospital da capital mineira, após um quadro de intoxicação medicamentosa. A complicação, resultante do uso excessivo de medicação, levou o artista a ser entubado e, posteriormente, a se submeter a uma traqueostomia. Apesar dos esforços médicos, o quadro de saúde se agravou progressivamente, culminando em seu falecimento às 20h50. O músico deixa seu filho, Luca Arroyo Borges, de 27 anos.
Nascido em 10 de janeiro de 1952, Lô Borges era o sexto de onze filhos de uma família profundamente musical. Irmão dos também renomados músicos Márcio Borges (co-fundador do Clube da Esquina), Marilton Borges e Telo Borges, Lô foi um pilar na construção da sonoridade que marcou gerações.
Legado imortal: Clube da Esquina e Canções Atemporais
Lô Borges foi um dos fundadores do Clube da Esquina, o vanguardista movimento musical que floresceu em Belo Horizonte entre o final dos anos 1960 e o início dos 1970. Ao lado de gigantes como Milton Nascimento, Fernando Brant (que nos deixou em 2015), Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso, Lô moldou um capítulo de ouro na história da MPB. É o segundo integrante do grupo a falecer, após Fernando Brant, que morreu em 2015 aos 68 anos.
Sua genialidade como compositor nos presenteou com clássicos inesquecíveis como “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Tudo Que Você Podia Ser”, “O Trem Azul”, “Clube da Esquina nº 2”, “Para Lennon e McCartney”, “Feira Moderna”, “Vento de Maio”, “A Via Láctea”, “Paisagem da Janela” e “Equatorial”, entre tantas outras.
Em 1972, aos vinte anos, Lô lançou dois álbuns que se tornariam marcos da discografia nacional. Um deles foi o icônico “Clube da Esquina”, uma colaboração seminal com Milton Nascimento, universalmente aclamado como um dos melhores álbuns de todos os tempos. O outro, seu primeiro trabalho solo, ficou conhecido como o “disco do tênis”, devido à emblemática capa fotografada por Cafi, o mesmo artista por trás da capa do álbum duplo “Clube da Esquina”.
Sua obra ecoou e foi interpretada por grandes nomes da música brasileira, incluindo Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Jobim (que gravou uma versão em inglês de “O Trem Azul”), Samuel Rosa, Beto Guedes, Lobão, Nando Reis e Caetano Veloso, com quem assinou a canção “Sem Não”.
Uma carreira ativa até o fim
Lô Borges mantinha uma agenda movimentada, com shows e lançamentos regulares. Desde 2019, o artista lançava um disco autoral por ano. Seu trabalho mais recente, “Céu de Giz”, com melodias suas e letras de Zeca Baleiro, foi lançado em agosto deste ano.
Em maio, para a alegria dos fãs, Lô fez uma apresentação surpresa e gratuita na famosa esquina que deu nome ao movimento, no encontro das ruas Paraisópolis com Divinópolis, no bairro Santa Tereza, em frente à casa de sua família.
Em dezembro de 2022, celebrando 50 anos de carreira, Lô Borges viveu um de seus momentos mais emocionantes: subiu ao palco da Sala Minas Gerais, em Belo Horizonte, ao lado da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e do quinteto de contrabaixistas acústicos do DoContra. Na ocasião, a orquestra executou um programa inteiramente dedicado ao seu repertório, um feito inédito para um artista popular. O projeto “50 Anos de Música” foi registrado e lançado em álbum pela gravadora Deck, disponível em áudio e vídeo nas plataformas digitais.
A partida de Lô Borges deixa um vazio imenso na cultura nacional, mas sua vasta e rica obra permanecerá viva, perpetuando a alma poética e inovadora do Clube da Esquina.



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