O presidente americano Donald Trump anunciou neste sábado (17) que pretende se engajar diretamente nos esforços para encerrar a guerra na Ucrânia, planejando conversas telefônicas com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O anúncio, feito em sua plataforma Truth Social, veio em um momento de continuidade dos combates no terreno e de posições ainda distantes entre as partes envolvidas, apesar de recentes negociações.
Trump declarou que falará com Putin na próxima segunda-feira (19), antes de conversar com Zelensky e diversos líderes de países membros da OTAN. O objetivo, segundo ele, é “colocar fim ao banho de sangue” na Ucrânia. O ex-presidente expressou a esperança de que “um cessar-fogo aconteça” e que “essa guerra muito violenta — uma guerra que nunca deveria ter começado — chegue ao fim”.
A iniciativa de Trump recebeu eco na administração americana. Tammy Bruce, porta-voz do secretário de Estado americano, Marco Rubio, reagiu mais tarde, afirmando que “os Estados Unidos querem alcançar um fim duradouro para a guerra entre Rússia e Ucrânia” e referindo-se à “mensagem forte do presidente Trump”. Bruce, que está em Roma onde Rubio participará da missa inaugural do papa Leão XIV neste domingo (18), acrescentou que “o plano de paz proposto pelos Estados Unidos define a melhor maneira de avançar”. A porta-voz confirmou que Rubio conversou por telefone neste sábado com o chanceler russo, Serguei Lavrov.
Bruce também comemorou o acordo de troca de prisioneiros firmado em Istambul entre Ucrânia e Rússia na sexta-feira (16). O secretário de Estado americano aproveitou para expressar sua “gratidão” ao Vaticano pelo papel nas trocas de prisioneiros e por seu envolvimento no retorno das crianças ucranianas às suas famílias.
Impasse nas negociações e combate contínuo
Apesar dos movimentos diplomáticos, a Rússia afirmou neste sábado (17) que um encontro entre Putin e Zelensky – que seria o primeiro desde 2019 – só ocorreria com “acordos” prévios entre Moscou e Kiev, algo que parece improvável no momento devido à intransigência das posições. Apesar do impasse sobre a reunião presidencial, o chanceler russo, Serguei Lavrov, “confirmou a disposição de Moscou em continuar a cooperação” com os americanos, segundo comunicado de seu gabinete.
No mesmo sábado, um dia após as primeiras negociações de paz diretas entre ucranianos e russos desde 2022 em Istambul, o Exército russo continuou bombardeando a Ucrânia, resultando na morte de nove pessoas no norte do país, conforme autoridades locais.
A reunião de sexta-feira (16) em Istambul, que durou menos de duas horas, evidenciou o abismo entre os dois lados para encerrar o conflito de mais de três anos. A delegação ucraniana havia exigido um cessar-fogo “incondicional” e um encontro entre os presidentes. O único resultado concreto foi o acordo para a troca de mil prisioneiros de cada lado, confirmado pelos negociadores russos. O chefe da inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, disse no sábado que “espera” que a troca ocorra “na próxima semana”.
As exigências do Kremlin para um acordo de paz permanecem as mesmas: que a Ucrânia renuncie à entrada na OTAN, abandone quatro de suas regiões parcialmente controladas pela Rússia (além da Crimeia, anexada em 2014) e que cessem os envios de armas ocidentais. A Ucrânia, por sua vez, rejeita essas exigências e insiste na retirada das tropas russas que ainda ocupam cerca de 20% de seu território. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, destacou que novas negociações diretas só seriam possíveis após a realização da troca de prisioneiros.
Nas últimas semanas, Moscou rejeitou a proposta ucraniana de cessar-fogo, apesar da pressão de países europeus e dos Estados Unidos. O negociador russo Vladimir Medinski citou Napoleão para justificar a postura russa: “A guerra e as negociações devem ser conduzidas simultaneamente”, disse à televisão russa. Paralelamente aos esforços diplomáticos e à continuidade dos combates, o presidente francês, Emmanuel Macron, e os chefes de governo da Alemanha, do Reino Unido e da Polônia ameaçaram a Rússia com medidas “massivas”.