Crédito, BBC News Brasil/BBC News BrasilLegenda da foto, O presidente nacional do PT, Edinho Silva, venceu eleições internas do PT, em julho. Ele vai comandar o partido para preparar o terreno para a campanha de reeleição de Lula, em 2026Article Information”Não estamos conseguindo dialogar com a nova classe trabalhadora.”Assumir que o partido enfrenta dificuldades para dialogar com a “classe trabalhadora” parece ter um peso extra para a liderança de um partido cujo nascedouro foi o movimento sindical do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e que carrega “trabalhadores” no nome.Aos 60 anos de idade, Edinho Silva assumiu o comando do PT em julho, ao vencer as eleições internas do partido. Mesmo antes de vencer a disputa, ele já era apontado como um dos homens de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).Sociólogo, Edinho atribui essa dificuldade às próprias origens do PT, formado a partir da lógica da defesa de direitos de trabalhadores com vínculo formal de emprego. Em meio a um mercado de trabalho novo, o partido, segundo ele, vem precisando modernizar suas propostas.”Sou defensor de que, em vez de nós ficarmos tentando regulamentar da perspectiva da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que a gente comece a dialogar com esse trabalhador dentro dessa nova realidade”, diz.Para Edinho, as urnas mostraram que parte da classe média brasileira, especialmente a que vive nas periferias das grandes cidades do país, virou as costas para o partido. Apesar de Lula ter prometido, nas eleições de 2022, acabar com o chamado “orçamento secreto”, mecanismo que proporcionou esse aumento no volume de verbas atribuído aos parlamentares, Edinho diz que o presidente não teve forças para cumprir a promessa.”Para voltar a caracterizar o presidencialismo, teríamos que alterar essas normas e, hoje, é impossível você alterar essas normas com a atual correlação de forças no Congresso Nacional”, afirma.Apesar dos desafios, Edinho se diz confiante na força da legenda e no papel central de Lula em 2026.”Eu tenho certeza absoluta de que o presidente Lula chegará em 2026 muito competitivo para ganhar as eleições.”Filiado ao PT desde 1985, Edinho tem longa trajetória política no partido: foi vereador em Araraquara (SP), prefeito da cidade por quatro vezes, deputado estadual em São Paulo, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no governo Dilma Rousseff (PT) e coordenador da campanha de Lula em 2022. É formado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Confira a seguir os principais trechos da entrevista, que foi editada para fins de clareza e concisão:Crédito, DivulgaçãoLegenda da foto, Edinho é considerado um dos homens de confiança do presidente Lula. Ele também foi ministro da Secretaria de Comunicação do governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)BBC News Brasil – O senhor tem repetido que o Brasil vive uma descaracterização do presidencialismo considerando o fato de que hoje Congresso executa R$ 52 bilhões do orçamento. Estamos no terceiro ano do governo Lula e isso não foi mudado. Por que o governo Lula não conseguiu mudar isso?Edinho Silva – Por conta da correlação de forças. Tivemos uma descaracterização do presidencialismo que teve início no governo [Michel] Temer, que não tinha legitimidade porque foi fruto de um golpe sobre Dilma. Depois, tivemos o governo [Jair] Bolsonaro, que é inegável que seja um mobilizador de massas, mas que tinha pouca aptidão para governar. Ele terceirizou a execução orçamentária para o Congresso Nacional. Esta situação está normatizada hoje no Congresso. Para voltar a caracterizar o presidencialismo, teríamos que alterar essas normas e, hoje, é impossível você alterar essas normas com a atual correlação de forças no Congresso Nacional. Os deputados que formam o Centrão… quando você vai mexer nos interesses deles, que é execução orçamentária, é evidente que a tendência de blocar uma maioria no Congresso evitando essa mudança, tanto na Câmara como no Senado, é muito grande. BBC News Brasil – Mas foi exatamente isso que o presidente Lula prometeu durante as eleições de 2022. Ele prometeu acabar com o orçamento secreto. O senhor compreende que o presidente Lula não cumpriu essa promessa?Edinho – Eu compreendo que não há correlação de forças [suficiente]. O presidente Lula falou isso na campanha e tem lutado arduamente para que essa situação se altere. E toda vez que se tenta mexer na execução orçamentária por parte do Congresso, é claro que temos reações e a mais evidente é a do IOF. Quando Congresso revoga um ato presidencial… não tenho nenhuma dúvida de que o motivo que pressionou o presidente da Câmara [Hugo Motta] a tomar essa posição, e também no Senado, foi a não execução das emendas parlamentares.[Nota da redação: Em Jjunho, o Congresso derrubou um decreto presidencial que aumentava o valor da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de algumas transações. O tema foi levado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que realizou uma mediação entre o Executivo e o Legislativo e o decreto foi mantido.]BBC News Brasil – Quando se fala sobre essa correlação de forças e admite que o governo não consegue mexer nisso, é uma afirmação justa dizer que o governo é refém dessa correlação de forças?Edinho – O governo não tem maioria no Congresso. Isso não é segredo para ninguém. Se o governo tivesse maioria, outras mudanças já teriam sido feitas, não apenas essa. Há muitas mudanças que o governo quer fazer e não tem correlação de forças no Congresso. Não conseguimos formar maioria.Quando o Congresso vira executor de R$ 52 bilhões do Orçamento, você tira do Executivo o poder de execução e, mesmo formando uma coalização com representação nos ministérios, quando essa deliberação sobre o Orçamento não está na mão dos ministros e sim no Congresso, a coalizão não se efetiva.BBC News Brasil – O presidente Lula pretende reeditar a promessa de acabar com o orçamento secreto, de reduzir o poder do Congresso sobre o Orçamento ou essa é uma luta que o PT não pretende travar?Edinho – Mas não depende do presidente Lula. O que cabe ao presidente Lula ele tem feito. Ele tem procurado liberar emendas dentro de programas do governo e de uma lógica governamental. E isso é conflitivo porque a dinâmica que se criou no Congresso Nacional é liberar as emendas de acordo com os interesses individuais dos parlamentares. E nem digo que isso não seja legítimo o parlamentar brigar pela sua cidade, pela sua região. O que eu penso que não pode é essa dinâmica descaracterizar o governo e descaracterizar programas nacionais. Nós precisamos devolver ao Executivo o poder presidencialista. Hoje, isso não acontece. Mas isso é um embate político. Nós vamos conseguir mudar isso no dia em que a sociedade permitir que a gente faça maioria no Congresso Nacional votando nos partidos que defendem que o presidencialismo volte a se caracterizar.Crédito, Antônio Cruz/Agência Brasil e Mário Agra/Câmara dos DeputadosLegenda da foto, Davi Alcolumbre no Senado (esq.) e Hugo Motta na Câmara confirmaram seu favoritismo, venceram as eleições nas duas casas e comando o Parlamento em momento delicado para o governo LulaBBC News Brasil – Mas, do ponto de vista prático, qual é o plano do PT e qual o plano do governo para reforçar o sistema presidencialista?Edinho – Uma parte dessa descaracterização tem que ser tratada pelo Supremo, porque se a Constituição Federal diz que o Brasil é presidencialista, se nós estamos descaracterizando o presidencialismo sem alterar a Constituição Federal, é evidente que tem uma parte desse embate que é jurídico.BBC News Brasil – Mas isso não é terceirizar para o Supremo um debate que é político?Edinho – Mas quem dirime dúvidas quanto a essas dúvidas constitucionais é a Suprema Corte.BBC News Brasil – Após as eleições de 2024, o senhor disse que a classe média votou contra o PT. O que o PT fez para que a classe média virasse as costas ao partido?Edinho – Uma parte da classe média vota no PT. Outra parte, historicamente, nunca votou. Onde nós perdemos eleitorado foi nos setores médios das periferias.Eu penso que existe uma nova classe trabalhadora se formando no Brasil. O processo de modernização que nós vivenciamos a partir do início do século 21, com adoção da robótica e inteligência artificial, tem mudado o mercado de trabalho brasileiro, porque você está mudando a base produtiva. As novas tecnologias substituem trabalhadores. Boa parte desses trabalhadores está indo para o setor de serviços e nós não estamos conseguindo dialogar com essa nova classe trabalhadora emergente. Do ponto de vista da juventude, há novas profissões que hoje se caracterizam por meio da internet. Um exemplo são os jovens que ficam em home office recortando e impulsionando vídeos para plataformas. A gente não consegue nem nominar essas novas profissões porque ainda estão em fase de caracterização e a gente tem dificuldade de dialogar com elas. Outro setor é o moto-entregador. Há quem diga que haja 12 milhões de moto entregadores no Brasil.BBC News Brasil – Por que o PT, pelo menos aparentemente, não consegue dialogar com essa nova classe trabalhadora?Edinho – Estamos tendo dificuldade de dialogar com essas novas profissões. O PT, tradicionalmente nasce do trabalhador dentro da fábrica, dos bancos, do comércio, do trabalhador sindicalizado. Essas novas profissões, em primeiro lugar, não são sindicalizadas. São muitos trabalhadores que sequer têm vínculo empregatício. Eles se caracterizam como empreendedores. Portanto, eles não têm aquela concepção de trabalho formal com a qual o PT sempre trabalhou. O ministro [Luiz] Marinho [do Trabalho], por exemplo, tentou regulamentar a profissão de moto-entregador, criando direitos que eram importantes. Mas a própria categoria rejeitou essa regulamentação. O motorista de aplicativo não quer vínculo formal. O moto-entregador não quer vínculo formal. O trabalhador em homeoffice, muitas vezes, não quer o vínculo formal. Nós temos que entender isso. E esse é o esforço que nós estamos fazendo para entender o que efetivamente esse trabalhador quer.BBC News Brasil – Mas o PT, hoje, entende o que esse trabalhador quer?Edinho – Isso não é magia. O PT tem que dialogar e interpretar. Não é como num passe de mágica e, de repente, agora, o PT vai entender o que esse trabalhador pensa. Nós temos que conversar, dialogar e construir propostas para esses trabalhadores. Eu penso, por exemplo, que uma forma de organização desses trabalhadores é o cooperativismo. É organizá-los como em cooperativas onde eles lutem pelos seus direitos e combatam a superexploração, a precarização, mas sem efetivamente ter o vínculo de trabalho formal. Por meio de cooperativas eles podem ter acesso a linha de crédito facilitada. Sou defensor que em vez de nós ficarmos tentando regulamentar da perspectiva da CLT, que a gente comece a dialogar com esse trabalhador dentro dessa nova realidade. Mas isso é um processo. O importante é que o PT tem consciência dessa dificuldade e disposição de diálogo.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Edinho Silva afirma que o governo e o PT precisam apresentar propostas concretas para trabalhadores como moto-entregadores que operam por meio de aplicativosBBC News Brasil – Dá tempo de fazer esse processo de interpretação do que eles estão dizendo a tempo de disputar essa faixa do eleitorado em 2026?Edinho – Estou falando de um processo histórico que é mais [longo] que uma eleição. Claro que nós queremos que o presidente Lula se reeleja em 2026, até para o Brasil continuar se reorganizando e se reestruturando. A situação na qual o presidente Lula pegou o Brasil em 2023 era deplorável. Nós reorganizamos o Bolsa Família, estamos voltando com o Minha Casa, Minha Vida. Agora, estamos enfrentando a questão da injustiça da carga tributária. Reeleger o presidente Lula é fundamental, mas quando a gente fala em restabelecer um diálogo com a nova classe trabalhadora, estamos falando de algo maior do que uma eleição.BBC News Brasil – Quão sensível é a situação do PT num contexto em que o partido perde diálogo com parte da classe média e enfrenta dificuldade para interpretar os anseios da nova classe trabalhadora?Edinho – Não é delicada. O PT têm 45 anos de existência. É o maior partido do Brasil, o maior partido progressista da América Latina. É um partido forte, o mais vitorioso da história da política brasileira. Qual o partido elegeu cinco vezes um presidente da República? Só o PT. É um partido organizado no Brasil inteiro. Ter sensibilidade para modernizar as suas propostas significa que esse partido é perene, ou seja, que ele vai perdurar porque ele tem sensibilidade e tem humildade para redesenhar as suas propostas o tempo todo.BBC News Brasil – Algumas pesquisas recentes apontam que houve um desgaste do apoio do PT na região Nordeste. Há alguns ciclos eleitorais, o PT é o grande bastião de apoio do partido. O que explica o PT estar perdendo apoio na região Nordeste e qual é o plano do PT para reverter esse processo?Edinho – Isso é conjuntural. Isso não é perda de base social estruturante. O presidente Lula está há mais de dois anos reorganizando as políticas públicas no Brasil. Evidentemente, a sociedade tinha uma expectativa de que o governo fizesse entregas urgentes, porque a sociedade brasileira vem de um governo Temer que virou as costas para a população mais pobre e de um governo Bolsonaro, que também virou as costas e desdenhou da pandemia. O governo Lula respondeu dentro do possível. Voltou com o Bolsa Família, com o PAC… Mas construir casas demora dois anos, obras estruturantes do PAC demoraram dois ou três anos. Não me preocupo com perda de popularidade conjuntural em relação ao Nordeste. O nível de entrega para a sociedade vai aumentar muito no próximo período. Eu tenho certeza absoluta de que o presidente Lula chegará em 2026 muito competitivo para ganhar as eleições.BBC News Brasil – Desde 2018, o PT se deu conta de que não tem o apoio do eleitorado evangélico. Em 2022, isso se repetiu e, a julgar pelas pesquisas mais recentes, esse fosso entre o partido e esse segmento da população continua existindo. Por que o PT tem tanta dificuldade em dialogar com os evangélicos?Edinho – Temos um problema aí. Não nego. Acho que nós temos um problema grande de diálogo com a comunidade evangélica. A comunidade evangélica, infelizmente, se alinhou com setores mais conservadores.Não tem magia para você reverter esse quadro. Você tem que ter presença e ter diálogo. O PT sempre foi bem votado na comunidade evangélica até a polarização se tornar um fenômeno político. Mas nós tivemos muitos votos entre os evangélicos também em 2022. E nós tivemos muitos votos agora (2024) entre os evangélicos nas eleições municipais. Nós vamos continuar dialogando e mostrando que as contradições não são reais. Quando o governo presidente Lula defende o Bolsa Família, o direito a creche, educação integral para a criança e o adolescente, o presidente Lula está defendendo a família brasileira e isso é um valor caro à comunidade evangélica.BBC News Brasil – Mas por que essa não tem sido a impressão junto ao segmento evangélico?Edinho – Porque (o ambiente) está polarizado e não é no Brasil, apenas, mas no mundo.BBC News Brasil – O PIB do Brasil tem crescido, o desemprego está em mínimas históricas e há algum aumento da renda. Mesmo assim o presidente Lula apresenta níveis de popularidade considerados baixos. Onde é que o governo tem errado para ter essas taxas de aprovação tão baixas, com índices econômicos aparentemente tão positivos?Edinho – De novo, temos que olhar a polarização. A liderança mundial com maior aprovação hoje é a [Giorgia] Meloni na Itália, com 40%. Isso acontece porque a sociedade está polarizada e estamos falando de uma liderança política alinhada com o fascismo. Essa polarização política que se criou no mundo impede que as pessoas se movam por entregas de governo. Eu ainda acredito que essa racionalidade vai voltar para a sociedade. O governo tem entregas importantes, mas a sociedade, muitas vezes, pela polarização, não quer debater o que o governo entregou. Ela não quer debater se o PIB está crescendo. Ela não quer debater se o emprego caiu, se a renda está melhorando. Ela quer debater modelo de sociedade. Tanto é que, quando o governo entra no debate modelo de sociedade, a popularidade do presidente Lula cresce. Quando nós deixamos claro para a sociedade que nós somos contra os privilégios e queremos defender, como sempre defendemos, os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras, quando o presidente Lula sai em defesa da soberania nacional, diante dos ataques do governo Trump ao Brasil e ao povo brasileiro, novamente a popularidade do presidente se recupera.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Para Edinho Silva, Brasil não deve recuar ao que classificou como “ataques” dos Estados Unidos do presidente Donald TrumpBBC News Brasil – O julgamento do ex-presidente Bolsonaro foi marcado agora para setembro. O senhor espera novas sanções dos Estados Unidos em relação ao Brasil ao longo do processo de julgamento?Edinho – A pergunta é: o governo Trump não quer que o Brasil apure uma tentativa de golpe? O governo Trump não quer que o Brasil apure uma organização que pretendia matar três lideranças brasileiras? Isso não tem sentido. O Brasil é um país democrático, em que as instituições funcionam e para nós, golpe não é algo banal. Tentativa de assassinato não é algo banal. Então, não interessa o que o governo Trump faça com o Brasil. O Brasil não vai abrir mão das suas instituições, não vai abrir mão da sua democracia e não vai abrir mão de apurar tentativa de crime e penalizar quem arquitetou uma tentativa de crime. Se não, a cada eleição que nós tivermos no Brasil e uma força política perder a eleição, ela vai se sentir no direito de organizar um golpe e de assassinar quem ganhou a eleição.BBC News Brasil – A pesquisa mais recente do Datafolha sobre a avaliação do tarifaço aponta que 35% dos entrevistados responsabilizam o presidente Lula pelo que está acontecendo, pelo tarifaço. Por que 35% da população, mais de um terço da população, segundo o Datafolha, responsabiliza o presidente Lula por esse tarifaço?Edinho – Você devia mudar a pergunta. A pergunta é por que a maioria da sociedade brasileira atribui à família Bolsonaro o tarifaço? Porque foi isso que deu na pesquisa. A maioria da sociedade brasileira diz que os responsáveis pelo tarifaço são a família Bolsonaro. Um terço (atribuir a Lula), numa sociedade polarizada, acho que é normal. Não é nenhum número assustador. [Nota da redação: a pesquisa do Datafolha aponta que 22% dos entrevistados aponta Jair Bolsonaro como responsável pelo tarifaço e 17% apontam Eduardo Bolsonaro].BBC News Brasil – O fato de o presidente Lula ter declarado apoio à então candidata democrata, Kamala Harris, e o fato de ter o presidente Lula associado o presidente Trump ao fascismo e ao nazismo, na sua avaliação, não contribuiu em nada para esse cenário?Edinho Silva – Ele é fascista. Eu estou dizendo o Trump é o maior líder fascista do século 21. Eu estou dizendo e os países democráticos do mundo estão dizendo. Um presidente que diz que vai ocupar a Groelândia, o Canal do Panamá e que diz que vai anexar o Canadá é fascista. O presidente que manda o [Elon] Musk representar o governo americano na conferência dos fascistas na Itália é fascista. Um presidente que dialoga com os nazistas na Alemanha defende o nazismo. Qual a dúvida que nós temos de que ele é o maior líder fascista do século 21? E eu penso que o povo americano tem que reagir. Nós temos que continuar denunciando as atrocidades do governo Trump.BBC News Brasil – O senhor é presidente do partido que tem a Presidência da República. O senhor teme perder visto de entrada nos EUA ou de ser sancionado de alguma forma?Edinho Silva – Eu? De forma alguma. E penso que o Brasil não tem que recuar.BBC News Brasil – Em 2022, foi montada a frente ampla e vocês trouxeram o vice-presidente Geraldo Alckmin para dentro da chapa. Geraldo Alckmin continua sendo o nome para essa chapa ou vocês já estão estudando outros nomes?Edinho – O vice-presidente Geraldo Alckmin pode ser candidato ao cargo que ele quiser. Ele é uma liderança exemplar para o país. É um homem íntegro, honesto, correto e um homem que tem cumprido um papel público excepcional, mesmo agora no enfrentamento ao tarifaço.Eu sou um fã incondicional do vice-presidente Geraldo Alckmin e penso que ele tem condições de ser candidato àquilo que ele achar que é o melhor. Evidentemente, nós vamos conversar, estamos conversando com o PSB, estamos conversando com o presidente [nacional do PSB] João Campos para que a gente construa a chapa mais forte possível para concorrer à Presidência da República e também para que a gente organize palanques fortes nos Estados brasileiros. Mas a ideia também é fundamental.BBC News Brasil – Mas a ideia é que a vice continue com o PSB?Edinho – A princípio, não tem nada que diga que o PSB não possa ser o vice. BBC News Brasil – Vocês pretendem mudar o critério de formação de alianças para 2026 e cobrar mais os partidos que hoje estão no governo para entregar mais apoio?Edinho – Nós vamos repetir a nossa política de alianças. Vamos trabalhar para ampliá-la. É evidente que, com os partidos fazem parte da coalizão, nós vamos negociar Estado por Estado e tentar criar palanques fortes em cada Estado brasileiro.BBC News Brasil – Em 2026, o presidente Lula vai estar com 81 anos. Tudo indica que pode ser o último ciclo eleitoral do presidente Lula. O PT hoje está preparado para existir sem o presidente Lula num ciclo eleitoral?Edinho – O presidente Lula completa [em 2025] 80 anos. Eu nunca vi o presidente Lula tão bem. Nunca vi ele tão bem de saúde e tão disposto. Ele tem uma vitalidade absurda. Ele vai disputar as eleições presidenciais num dos melhores momentos da sua vida, tanto do ponto de vista de saúde como de lucidez e de ânimo.Mas o desafio de nós fortalecermos o PT para quando o presidente Lula não estiver mais nas urnas é grande. O PT tem que se preparar, tem que se fortalecer do ponto de vista eleitoral para quando o presidente não estiver disputando as eleições. É um desafio. Nós estamos trabalhando para fortalecer o PT. O presidente Lula tem uma frase que eu acho que ela é a melhor resposta para essa sua pergunta. O presidente Lula disse que o seu sucessor não será um nome. Será o partido. Porque se o PT estiver forte, enraizado na sociedade brasileira, dialogando com a sociedade brasileira, o nome nós vamos construir com naturalidade.BBC News Brasil – Mas essa frase também não escamoteia ou não resulta em uma inviabilização de novos nomes? Isso não prejudica o surgimento de novas lideranças?Edinho – Pelo contrário. Ele está dizendo que o PT produzirá novas lideranças. É o contrário do seu raciocínio. Se o PT estiver forte, ele vai produzir muitas lideranças e certamente nós vamos ter lideranças disputando as eleições no Brasil por décadas. O PT precisa estar forte para que essas lideranças apareçam e se fortaleçam.BBC News Brasil – Parte da sociedade brasileira entende o PT como um partido que é leniente na questão da segurança pública. Por outro lado, a PM da Bahia, que é um Estado governado pelo PT há muitos anos, é uma das polícias que mais mata no Brasil. Qual é a proposta do PT para a área de segurança pública e por que ela ainda não está clara para a maior parte da população brasileira?Edinho – Eu acho que o PT precisa entrar com mais força no debate da segurança pública. Temos que ouvir os governadores para saber o que está dando certo e o que não está dando certo. Temos que ouvir os nossos prefeitos das grandes cidades para saber o que as guardas municipais têm feito e nós formularmos uma proposta de segurança pública. Essa proposta precisa, primeiro, cuidar do adolescente em conflito com a lei. Se nós não cuidarmos do adolescente em conflito com a lei, ele será ganho pelo crime organizado. Em segundo lugar, essa proposta precisa adote as novas tecnologias. Hoje você tem grandes exemplos de segurança pública no mundo. Com câmeras de monitoramento, você tem condições de monitorar uma cidade inteira por meio de câmeras.Não estou dizendo que o policiamento de combate não seja importante, mas ele tem que ficar dentro do batalhão e entrar quando for efetivamente necessário ele entrar. A gente não pode ter índices onde os nossos jovens pretos das periferias são vítimas da letalidade policial. São temas importantes e não são simples. Por isso que é importante envolver os governadores e os prefeitos na formulação dessa proposta.BBC News Brasil – Não é uma contradição o senhor defender isso e a PM de um Estado como a Bahia ser uma das polícias mais letais, afetando exatamente a população jovem, negra e periférica da Bahia?Edinho – Por isso que é importante chamar os governadores para conversar, para a gente entender o que está dando certo e o que está dando errado.BBC News Brasil – Hoje, uma parte relativamente grande da população, segundo as pesquisas, entende de alguma forma que o presidente Jair Bolsonaro é vítima de uma perseguição política, com o objetivo de tirá-lo das urnas e permitir uma nova vitória do presidente Lula. Como é que o senhor responde a essa argumentação de uma parte relativamente grande da população brasileira?Edinho Silva – O ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo investigado por uma tentativa de golpe. Sou defensor do princípio do contraditório e de que ele possa oferecer sua defesa, mas todos os indícios levam a crer que ele participou da organização de uma tentativa de golpe e, repito, uma tentativa de golpe que pressupunha matar o presidente que ganhou as eleições, o vice-presidente e o ministro responsável pela diplomação eleitoral. Isso é grave. Ele precisa ser investigado. Ele tem o direito de defesa, mas se for culpado, ele tem que pagar pela sua pena.
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