Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, O senador Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga disputarão segundo turno em 19 de outubro na BolíviaArticle InformationAuthor, Atahualpa AmeriseRole, BBC News Mundo17 agosto 2025, 22:48 -03Atualizado Há 17 minutosO senador Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga disputarão a presidência da Bolívia em segundo turno.Eles foram os dois candidatos mais votados nas eleições presidenciais deste domingo (17/8), marcadas por uma profunda crise econômica no país, uma oposição dividida e uma ruptura dentro da esquerda e do partido Movimento ao Socialismo (MAS), que perderá o poder duas décadas após a primeira vitória eleitoral de Evo Morales em 2005.Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão) obteve mais de 1.561.000 votos (32,08%) e Quiroga (Aliança Livre) ultrapassou 1.311.000 (26,94%), segundo resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral com mais de 90% dos votos apurados.Em seguida, vieram o empresário Samuel Doria Medina — que, segundo as pesquisas, era o favorito — com 19,93% e o principal candidato de esquerda, Andrónico Rodríguez, com 8,15%.O partido governista Movimento ao Socialismo (MAS) sofreu uma derrota histórica, terminando em sexto lugar, com 3,14% dos votos.A participação foi de 78,55% de um total de 7,5 milhões de eleitores cadastrados, segundo o TSE.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Paz, que não estava entre os favoritos nas pesquisas, causou grande surpresa ao terminar em primeiro lugarPaz, que se apresenta como uma figura da renovação política centrista, e Quiroga, mais alinhado à direita conservadora, se enfrentarão no dia 19 de outubro no segundo turno.Isso é algo inédito, posto que, desde a introdução do sistema de segundo turno na Bolívia, em 2009, todas as eleições foram decididas no primeiro turno.A Constituição boliviana estabelece que um candidato pode vencer a presidência no primeiro turno se obtiver mais de 50% dos votos válidos, ou pelo menos 40% com uma diferença de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.O avanço de Paz e Quiroga para o segundo turno também anuncia uma mudança histórica na política boliviana, já que os cidadãos elegerão um presidente não esquerdista após quase duas décadas de governo do MAS.O resultado confirma a fratura e o declínio da força política fundada por Evo Morales, que entrou na disputa dividida e com apoio eleitoral muito aquém do que caracterizou a política boliviana nos últimos 20 anos.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Inabilitado para se candidatar, Morales fez campanha pelo voto nuloAs eleições gerais deste domingo foram convocadas para eleger o presidente, o vice-presidente, 36 senadores, 130 deputados e nove representantes em órgãos parlamentares internacionais.O presidente do TSE, Óscar Hassenteufel, descreveu o dia da eleição como tranquilo, sem incidentes graves e com 100% das seções eleitorais abertas.Os dois candidatosO segundo turno entre Paz e Quiroga evidencia a fragmentação dentro da oposição, que meses atrás tentou unificar forças em torno de um único candidato, mas acabou se dividindo.Ambos os candidatos disputam um eleitorado que busca superar a crise econômica e fechar o ciclo político do MAS, mas com estilos diferentes: Paz encarna um perfil mais inovador e moderado, enquanto Quiroga oferece um discurso mais político, ideológico e conservador.Rodrigo Paz, senador de 54 anos e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, construiu sua carreira política no Congresso e como prefeito de Tarija.Nesta campanha, ele se apresentou como uma alternativa às figuras tradicionais.Sua candidatura surpreendeu pela ascensão nas pesquisas nas últimas semanas — embora não fosse o favorito — e se consolidou com uma mensagem de renovação e o apoio de seu companheiro de chapa, o ex-policial Edman Lara, conhecido por sua retórica anticorrupção.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Jorge “Tuto” Quiroga representa a opção mais tradicional da direitaJorge “Tuto” Quiroga, de 65 anos, foi presidente de 2001 a 2002, após a renúncia de Hugo Banzer.Ele se apresenta como um político experiente e com uma linha dura contra o MAS, o que, segundo analistas, lhe dá apoio entre setores de oposição mais radicais, mas limita sua capacidade de atrair eleitores moderados ou desiludidos.Crise econômica e fragmentação políticaA eleição teve como pano de fundo a pior crise econômica do país nos últimos 40 anos.A Bolívia enfrenta uma inflação anual de quase 25%, escassez de combustível, desvalorização do boliviano no mercado negro e dificuldades de acesso a dólares.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, As longas filas nos postos de gasolina ilustram a crise generalizada na BolíviaAnalistas atribuem a fragmentação do voto à agitação social ligada à crise, o que explica em grande parte por que nenhum candidato ultrapassou 33% no primeiro turno.Outro fator determinante foi a fragmentação do Movimento ao Socialismo, que chegou a essas eleições dividido.O presidente Luis Arce desistiu da disputa em maio e apoiou seu ex-ministro, Eduardo del Castillo, que concorreu sob a bandeira do MAS-IPSP, com resultados muito abaixo das expectativas.Andrónico Rodríguez, presidente do Senado e figura emergente no movimento de esquerda, tentou se apresentar como alternativa com sua própria aliança, mas não conseguiu capitalizar o voto do MAS.O ex-presidente Evo Morales, inabilitado judicialmente para concorrer às eleições, denunciou a “proscrição” de sua participação eleitoral e promoveu o voto nulo, o que teria reduzido ainda mais o número de votos para a esquerda.Os votos nulos totalizaram 1.165.000, ou 18,9%, bem acima da média das eleições anteriores, que girava em torno de 3,7%.No entanto, mesmo considerando esse número e a convocação de Morales, os resultados preliminares indicam que a esquerda passou longe de representar uma força relevante na disputa à Presidência.Assim, o segundo turno colocará em confronto dois projetos de oposição que concordam na rejeição ao MAS, mas divergem em suas abordagens.Quem vencer em 19 de outubro, de qualquer forma, enfrentará o desafio de inaugurar um novo ciclo político em um contexto marcado por uma das piores crises econômicas das últimas décadas no país sul-americano.
FONTE