Por Cleiton Túlio | Portal Mato Grosso
O grupo investigado pela Polícia Civil na Operação “Sepulcro Caiado”, deflagrada nesta quarta-feira (30), teria movimentado um montante superior a R$ 30 milhões entre os anos de 2019 e 2023. A informação foi revelada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e consta no inquérito que embasou a operação contra o suposto esquema de desvio de valores da conta de depósitos judiciais do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).
Os dados financeiros apontam para uma teia complexa de transações incompatíveis com as rendas declaradas dos envolvidos, com destaque para a família Ricci Volpato e outros parceiros.
Milhões em contas dos investigados
Um dos principais nomes com movimentações expressivas é o empresário Augusto Frederico Ricci Volpato, apontado como braço operacional de seu irmão, João Gustavo Ricci Volpato, considerado o principal investigado. Segundo o Coaf, Augusto movimentou mais de R$ 16 milhões em contas bancárias no período analisado, valor considerado totalmente desproporcional à sua renda declarada.
As transações de Augusto incluem:
Janeiro de 2019: R$ 253 mil movimentados, com R$ 37 mil transferidos para a RV Empresa de Cobrança Ltda – ME, à qual possui ligação.
Abril de 2019: Mais de R$ 350 mil, com uma transferência única de R$ 80 mil para sua mãe, Luiza Rios Ricci Volpato.
Agosto de 2019: Envio de R$ 11 mil ao irmão, João Gustavo Ricci Volpato.
Novembro de 2020 a Agosto de 2021: Movimentou R$ 6,2 milhões, destinando mais de R$ 666 mil aos pais, Luiz Volpato Neto e Luiza Rios.
Agosto de 2021 a Setembro de 2023: Mais de R$ 10 milhões em movimentações, incluindo R$ 1,2 milhão para a mãe e cerca de R$ 1 milhão para o cunhado, Guilherme Porto.
O irmão, João Gustavo Ricci Volpato, também registrou alta movimentação. Entre setembro de 2020 e maio de 2021, ele movimentou R$ 2,7 milhões, recebendo valores da RV Cobrança e do escritório França & Moraes Sociedade de Advogados S/S. No período subsequente (maio de 2021 a setembro de 2023), as transações de João Gustavo somaram R$ 9,3 milhões, muitas delas com origem em empresas ligadas à família.
A mãe dos empresários, Luiza Rios Ricci Volpato, também aparece com movimentações milionárias, totalizando R$ 2 milhões em apenas seis meses (fevereiro a julho de 2022), incluindo repasses para o filho Augusto Frederico e recebimentos de ambos os filhos.
Outros envolvidos e dinheiro em espécie
Márcia Ferreira da Costa, falecida em 2023 e ex-esposa do servidor do TJMT Mauro Ferreira Filho – apontado como facilitador na liberação de valores judiciais –, movimentou R$ 1,79 milhão entre outubro de 2021 e setembro de 2022. Desse total, R$ 342 mil foram creditados em sua conta pela RV Empresa de Cobrança Ltda. – ME, empresa que tem como sócios os investigados Luiza Rios Ricci Volpato e João Gustavo Ricci Volpato.
O escritório França & Moraes Sociedade de Advogados S/S também teve suas movimentações analisadas, com R$ 566 mil passando por sua conta entre março e setembro de 2024.
O advogado Régis Poderoso de Souza, outro investigado, movimentou R$ 220 mil em apenas dois dias (30 de junho e 1º de julho de 2021). A apuração indica que esse valor teria sido usado para comprar um imóvel em Marília (SP) com pagamento em espécie, o que levanta suspeitas sobre a tentativa de ocultar a origem do dinheiro. Há, ainda, registros de pagamentos em dinheiro vivo feitos por Régis a outros integrantes do grupo.
Detalhes da Operação “Sepulcro Caiado”
A Operação “Sepulcro Caiado” investiga um grupo que, por anos, supostamente manipulou registros da conta de depósitos judiciais para viabilizar saques indevidos, transferências simuladas e fraudes documentais. O esquema gerou prejuízos aos cofres públicos e às partes envolvidas em processos judiciais, com vítimas que descobriram ter dívidas “quitadas” judicialmente com valores muito acima do original, inclusive uma pessoa interditada.
Nesta quarta-feira, foram cumpridas mais de 160 ordens judiciais, incluindo 11 mandados de prisão preventiva, 22 de busca e apreensão, 16 ordens de bloqueio judicial totalizando mais de R$ 21,7 milhões. Além disso, foram realizadas 46 quebras de sigilo fiscal e bancário e o sequestro de 18 veículos e 48 imóveis. As ações ocorreram em Cuiabá, Várzea Grande e Marília (SP).
Entre os alvos dos mandados de prisão estão os advogados Wagner Vasconcelos de Moraes, Melissa Franca Praeiro Vasconcelos de Moraes, Rodrigo Moreira Marinho, Themis Lessa da Silva, João Miguel da Costa Neto, Régis Poderoso de Souza e Denise Alonso; os empresários João Gustavo Ricci Volpato e Augusto Frederico Ricci Volpato (sócios de empresa credora), Luiza Rios Ricci Volpato (sócia de empresa credora); e o servidor do TJ, Mauro Ferreira Filho. Eles responderão por crimes como organização criminosa, estelionato, falsificação de documento, falsidade ideológica, uso de documento falso, peculato, patrocínio infiel e lavagem de capitais.