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Ex-presidente da Unimed é suspeito de lavagem de dinheiro em esquema de ‘Smurfing’



O ex-presidente da Unimed Cuiabá, Rubens de Oliveira Júnior, está sob investigação do Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de lavagem de dinheiro, em um esquema que teria ocorrido entre o final de 2021 e o início de 2023. A manobra, que envolvia depósitos fracionados de grandes quantias em dinheiro em espécie, visava, segundo os procuradores, ocultar a origem ilícita dos valores.
De acordo com o inquérito da Operação Bilanz, deflagrada pela Polícia Federal em outubro do ano passado – que culminou na prisão de Rubens e teve outras cinco pessoas ligadas à sua gestão como alvos –, Rubens de Oliveira Júnior supostamente entregava mensalmente pacotes de dinheiro, variando entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, para funcionárias da cooperativa. A ordem era que esses valores fossem separados em pilhas e depositados em suas contas correntes nos bancos do Brasil, Santander e Safra.
Os procuradores da República Pedro Melo Pouchain Ribeiro e Thereza Luiza Fontenelli Costa Maia relatam no documento que “a gerente ou a antiga superintendente Ana Paula Parizotto ia até a sala do doutor Rubens e retornava com pacote de dinheiro em espécie, contendo entre cerca de R$ 10 mil e R$ 15 mil, com ordens para que as cédulas fossem separadas em dois ou três pilhas e depositadas em contas correntes em nome dele”.
A técnica utilizada, conhecida como ‘smurfing’ ou fracionamento de depósitos, é uma estratégia clássica para burlar os mecanismos de controle do sistema financeiro e dificultar o rastreamento da origem do dinheiro. O MPF aponta fortes indícios de que os recursos eram provenientes de fraudes contábeis e desvios patrimoniais praticados dentro da própria Unimed Cuiabá, que teriam gerado um prejuízo estimado em R$ 400 milhões nas contas da cooperativa durante o mandato de 2019 a 2023.
Depoimentos revelam esquema anormal
Funcionários e ex-colaboradores da cooperativa médica corroboraram as suspeitas em depoimentos. Uma funcionária do setor de contas a pagar relatou que a movimentação de dinheiro em espécie era incomum na Unimed, exceto em situações emergenciais e com valores pequenos. No entanto, ela descreveu que ouvia Rubens chamando a superintendente Ana Paula ou a gerente Ivete para pegar os valores, que depois eram contados e distribuídos para depósito em suas contas pessoais. “Isso era visto por todos como algo anormal, mas que se subentendia que não poderiam perguntar sobre o que aquilo se tratava”, declarou.
Uma ex-coordenadora financeira também confirmou o suposto esquema, afirmando que via “circulando valores em espécie para depósitos em bancos” no ambiente de trabalho. Ela chegou a auxiliar a gerente Ivete a contar esses valores, que “giravam entre dez e doze mil reais”, e os colocava em envelopes para depósito. Segundo seu depoimento, essas contagens ocorriam com frequência de “dez em dez dias, ou quinze em quinze dias”. A ex-coordenadora ainda confirmou ter recebido valores diretamente de Rubens para depósitos em suas contas pessoais em pelo menos cinco ocasiões.
Conexão com fraudes contábeis e organização criminosa
O Ministério Público Federal salienta que há “fortes indícios quanto à origem criminosa desses recursos, diretamente relacionada às fraudes contábeis e aos desvios patrimoniais promovidos no âmbito da Unimed Cuiabá, consistentes em, pelo menos, quatro dezenas de condutas de estelionato”.
A investigação sugere que Rubens e Ana Paula Parizzotto agiram deliberadamente para dissimular a origem ilícita dos recursos. O MPF não descarta que esses valores tenham sido posteriormente distribuídos a outros ex-gestores investigados, como Suzana Aparecida Rodrigues dos Santos Palma, Jaqueline Proença Larrea e Eroaldo de Oliveira, indicando a existência de uma “Organização Criminosa”.
A Operação Bilanz foi deflagrada após denúncia da atual direção da cooperativa, presidida pelo médico Carlos Bouret. Uma auditoria independente revelou que o balanço contábil de 2022, que apresentava um saldo positivo de R$ 370 mil, na verdade ocultava um rombo de aproximadamente R$ 400 milhões, resultado de uma possível “maquiagem” financeira.
Fac-símile de trecho de denúncia do MPF:

*Com informações do MidiaNews



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