Crédito, MOHAMMED SABER/EPA/ShutterstockLegenda da foto, Palestinos deslocados internamente tentam pegar sacos de farinha de um caminhão de ajuda próximo a um ponto de distribuição de alimentos em Zikim, no norte da Faixa de Gaza, em 27 de julho de 2025Há 17 minutosCrédito, MOHAMMED SABER/EPA/ShutterstockLegenda da foto, Ajuda humanitária lançada por via aérea pelo Exército Real da Jordânia chega ao norte da Faixa de GazaIsrael anunciou uma pausa diária de 10 horas em suas operações militares na Faixa de Gaza, citando fins humanitários, após crescentes alertas de agências internacionais sobre o risco de fome generalizada entre os civis palestinos. As forças militares israelenses disseram rejeitar “a falsa alegação [de que estejam provocando] a fome intencionalmente” e determinaram uma série de ações para facilitar a entrada de ajuda, mas organizações humanitárias e especialistas afirmam que os esforços seguem aquém do necessário.”Claro que sinto um pouco de esperança novamente, mas também estou preocupada que a fome continue quando a pausa acabar”, disse Rasha Al-Sheikh Khalil, mãe de quatro filhos, de 39 anos, na Cidade de Gaza.”Um comboio de ajuda ou alguns pacotes lançados do ar não serão suficientes. Precisamos de uma solução real, um fim para esse pesadelo, um fim para a guerra”, seguiu ela.Neste sábado (27/7), aviões da Jordânia e dos Emirados Árabes Unidos lançaram 25 toneladas de alimentos e suprimentos essenciais sobre Gaza, em uma operação conjunta que envolveu dois aviões C-130 jordanianos e uma aeronave emiradense. Os lançamentos ocorreram em vários pontos do território sitiado. Segundo a TV estatal jordaniana, este foi o 127º lançamento aéreo do país desde o início da guerra, e o número sobe para 267 quando somadas as missões em parceria com outras nações.Crédito, MOHAMMED SABER/EPA/ShutterstockLegenda da foto, Palestinos deslocados internamente tentam pegar sacos de farinha de um caminhão de ajuda próximo a um ponto de distribuição de alimentos em Zikim, no norte da Faixa de Gaza, em 27 de julho de 2025Apesar das imagens dramáticas da ajuda caindo do céu, especialistas alertam que os lançamentos aéreos têm alcance limitado.Cada avião C-130 transporta cerca de 12.500 refeições por viagem — o que significa que seriam necessárias cerca de 160 missões apenas para fornecer uma refeição para cada um dos 2 milhões de habitantes de Gaza. “Sozinhos, os lançamentos não são suficientes”, resume o correspondente internacional da BBC Joe Inwood, destacando que a abertura de corredores humanitários terrestres teria um impacto muito mais efetivo.Enquanto isso, caminhões vazios foram vistos se dirigindo a três pontos de acesso à Faixa de Gaza — as passagens de Zikim, Kissufim e Kerem Shalom —, mas ainda não há confirmação sobre a data de entrada efetiva da ajuda. No interior de Gaza, mercados locais registraram uma corrida de comerciantes tentando vender alimentos estocados. O preço da farinha caiu drasticamente: de US$ 85 o quilo há quatro dias, para US$ 15 neste sábado. Ainda assim, os preços seguem altos e a oferta limitada.A comunidade internacional segue pressionando Israel por medidas mais amplas e eficazes para garantir o acesso da população civil à comida e itens básicos de sobrevivência.Para muitas organizações, as ações anunciadas até agora representam avanços pontuais, mas insuficientes diante da escala da crise humanitária em curso.O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fez nesta semana seus primeiros comentários públicos desde que o Exército anunciou uma série de medidas para diminuir as restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza.Em uma declaração em vídeo, ele afirmou que, enquanto Israel continua seus combates em Gaza e negociações com o Hamas, o país precisa permitir a entrada de suprimentos humanitários “mínimos”.Netanyahu disse que Israel sempre permitiu a entrada de ajuda em Gaza, mas acusou a ONU de responsabilizar seu governo pela crise enfrentada pelos palestinos.”Existem rotas seguras. Sempre existiram, mas hoje é oficial. Não haverá mais desculpas”, declarou o premiê durante uma visita a uma base aérea.Fome extrema “choca” aliados de Israel O Ministério da Saúde de Gaza, comandado pelo Hamas, divulgou um comunicado informando o número de pessoas que teriam morrido em consequência da desnutrição. Foram registradas duas novas mortes por fome e desnutrição nas últimas 24 horas — elevando para 113 o total de mortes atribuídas a essas causas.No início da semana, o secretário-geral da ONU afirmou que os 2,1 milhões habitantes de Gaza enfrentam uma grave escassez de suprimentos básicos, que a desnutrição está “disparando” e que a “fome está batendo à porta de todos” no território.A ONU também declarou que pelo menos 1.054 palestinos foram mortos por militares israelenses enquanto buscavam alimentos desde o dia 27 de maio, quando teve início um novo método de ajuda, a Fundação Humanitária da Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiado pelos EUA e Israel.De acordo com a ONU, até 21 de julho, 766 pessoas foram mortas “nas proximidades” dos pontos da GHF e outras 288 “perto de comboios de ajuda da ONU e de outras organizações humanitárias”.A Fundação Humanitária da Gaza utiliza empresas privadas de segurança para distribuir ajuda a partir de locais situados em zonas militares controladas por Israel.Tanto Israel quanto os EUA dizem que o sistema de distribuição é necessário para impedir o Hamas de roubar a ajuda que chega.Contudo, a ONU se recusa a cooperar com o esquema, classificando como antiético e afirmando que não há nenhuma evidência de que o Hamas esteja desviando ajuda humanitária de forma sistemática.Crédito, Reuters’Não estamos à beira da fome, estamos passando por ela’Aseel Horabi, uma médica em Gaza que trabalha com uma instituição britânica, disse que as pessoas estão vivendo uma “fome extrema”.”Não importa quanto tempo eu passe tentando explicar, não vou conseguir descrever o sofrimento dessas pessoas. Elas estão exaustas. Estão cansadas dessa situação”, disse à BBC.”Chegamos a uma situação desastrosa. Não estamos à beira da fome, estamos passando por ela.””Meu marido foi uma vez [até o ponto de distribuição de ajuda], depois foi uma segunda vez, e então levou um tiro”, conta.”Se for para morrermos de fome, que assim seja. O caminho até a ajuda é o caminho para a morte. É uma estrada traiçoeira. Em alguns casos, é um bilhete só de ida”, afirma Horabi, que acrescenta:”Eu vejo um número enorme de pessoas feridas chegando ao hospital. Às vezes recebemos até 50 feridos por dia. Durante o dia, não temos tempo nem de fechar os olhos, descansar um pouco ou mesmo beber uma xícara de chá, se ainda houver açúcar.”
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