O delegado Jean Paulo Nascimento, responsável pela investigação do assassinato de Roseni da Silva Karnoski, de 52 anos, em Nova Mutum, detalhou as inconsistências nas versões apresentadas pelo seu marido, Valdecir Karnoski, de 55, que está preso suspeito pelo crime.
É necessário pressionar o gatilho com força e, muitas vezes, travar o mecanismo. Não foi um acidente
Roseni foi morta com um tiro de espingarda na terça-feira (24) à noite na zona rural da cidade.
Durante entrevista coletiva, o delegado destacou que o suspeito apresentou pelo menos três versões diferentes para o crime, todas contraditórias com as evidências encontradas no local.
Ao chegar à residência do casal, os policiais encontraram uma cena que não correspondia ao relato inicial de Valdecir. O suspeito, que estava visivelmente embriagado, primeiro afirmou que a vítima havia “se atirado” contra a arma, depois mudou a versão, alegando que o disparo ocorreu acidentalmente durante a limpeza da espingarda. Em um terceiro momento, sugeriu que Roseni teria provocado uma discussão antes do tiro.
Testemunhas confirmaram que Valdecir tinha um comportamento violento quando embriagado, e familiares relataram que ele era controlador e agressivo, embora muitos tenham se mostrado reticentes em falar abertamente sobre o histórico de violência.
A perícia constatou que o disparo partiu de uma espingarda calibre 12, carregada com munição de chumbinho, que penetrou no peito da vítima e se alojou no abdômen. A trajetória angular descendente do projétil indica que Roseni estava deitada ou agachada no momento em que foi atingida.
Além disso, as mãos da vítima apresentavam lesões características de tentativa de defesa, sugerindo que ela tentou se proteger antes de ser alvejada. “Uma espingarda como essa não dispara sozinha. É necessário pressionar o gatilho com força e, muitas vezes, travar o mecanismo. Não foi um acidente”, afirmou o delegado.
Valdecir já tinha um histórico de violência contra a esposa. Em 2021, ele atirou em Roseni após uma discussão motivada pelo fato de ela ter tirado a carteira de motorista sem seu conhecimento. O caso resultou na cassação de seu Certificado de Caçador, Atirador Esportivo ou Colecionador (CAC), mas ele continuou mantendo armas em nome da esposa.
Na residência do casal, foram apreendidas uma espingarda calibre 12, um rifle calibre 22, uma espingarda calibre 36, uma arma de pressão e 249 munições de diversos calibres, todas registradas em nome de Roseni.
Quando a Polícia Militar chegou ao local, Valdecir resistiu à prisão e ameaçou se matar, obrigando os policiais a uma negociação que durou cerca de 40 minutos. Na delegacia, continuou a fazer ameaças contra a própria vida, o que exigiu monitoramento constante, conforme o delegado.
Nascimento informou que vai pedir a prisão preventiva do suspeito, e o caso será encaminhado ao Ministério Público como feminicídio qualificado, motivado por violência doméstica.
O corpo de Roseni foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Cuiabá para exames complementares. A investigação segue em andamento para apurar se houve premeditação no crime.
O casal, que vivia no mesmo rancho há quase 30 anos, tinha duas filhas adultas. Familiares confirmaram que o relacionamento era marcado por agressões, mas muitos evitavam denunciar por medo de represálias.
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