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Polícia investiga 14 deputados e prefeito por desvio de R$ 28 milhões em emendas parlamentares



Uma complexa investigação da Polícia Civil de Mato Grosso, batizada de Operação Suserano, abala o cenário político estadual ao apurar um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares do orçamento estadual. As informações, divulgadas nesta manhã pelo portal UOL, apontam para um prejuízo que pode chegar a R$ 28 milhões aos cofres públicos, envolvendo a compra superfaturada de kits agrícolas e outros produtos.
A investigação, conduzida pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) desde setembro do ano passado, mira a destinação de emendas para a aquisição de kits que incluiriam roçadeiras, motocultivadores, adubadeiras costais e perfuradores de solo. Documentos aos quais o jornalista Pablo Rodrigo, do UOL, teve acesso, revelam que 14 deputados estaduais e o atual prefeito de Rondonópolis, Claudio Ferreira (PL), estão sob investigação. O secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Alan Kardec (PSB), também é citado.
O esquema e os nomes envolvidos
O centro do suposto esquema seria o empresário Alessandro do Nascimento, apontado como sócio oculto de uma rede de empresas que teriam sido as destinatárias das emendas. O dinheiro teria sido repassado principalmente através do Instituto de Natureza e Turismo – Pronatur, responsável por 24 termos de fomento assinados com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf). A investigação aponta um sobrepreço de R$ 10,2 milhões na compra desses kits agrícolas.
A empresa que teria recebido o dinheiro dos kits estaria em nome de um homem que atuava como “laranja”, também treinador de futebol de uma associação que, por sua vez, recebeu mais de R$ 1 milhão em emendas para um projeto intitulado “Craque Cidadão”.
A lista de parlamentares que teriam destinado as emendas sob investigação inclui nomes de peso na política mato-grossense:

José Eduardo Botelho (União), ex-presidente da Assembleia Legislativa
Juca do Guaraná (MDB)
Cláudio Ferreira (PL), atual prefeito de Rondonópolis
Doutor João José (MDB)
Alan Kardec (PSB), atual secretário de Ciência e Tecnologia
Gilberto Cattani (PL)
Fabio Tardin (PSB)
Julio Campos (União)
Faissal Calil (PL)
Ondanir Bortolini (PSD)
Dr. Eugênio (PSB)
Wilson Santos (PSD)
Thiago Silva (MDB)
Dilmar Dal Bosco (União)
Carlos Avalone (PSDB)

Evidências e transferência para a Polícia Federal
A apuração indica que Alessandro Nascimento teria tentado ocultar provas um dia antes da deflagração da operação, ao deixar uma caixa com anotações na casa de amigos. No entanto, o próprio empresário teria entregue o material à Polícia Civil dias depois. As anotações continham nomes de deputados estaduais, como Eduardo Botelho (“1m Botelho”) e Ondanir Bortolini (“500k Nininho”), além de questionamentos sobre a distribuição de materiais esportivos. Cadernos também mencionavam Dr. Eugênio, Dilmar Dal Bosco, Faissal Calil, Carlos Avalone e Thiago Silva.
A polícia também identificou que diversos deputados teriam solicitado produtos para a empresa de Alessandro no setor de esportes, incluindo Eduardo Botelho, Juca do Guaraná, Claudio Ferreira, Doutor João José, Alan Kardec, Gilberto Cattani, Fabio Tardin e Júlio Campos.
Diante da complexidade e do envolvimento de agentes políticos, a delegada responsável pelo caso, Juliana Rado, solicitou o encaminhamento do inquérito para a Polícia Federal em 15 de maio.
O Outro Lado: deputados e citados se defendem
Os parlamentares e demais citados na investigação se manifestaram sobre as acusações:

Eduardo Botelho (União): Afirmou nunca ter participado de entregas de obras ou equipamentos em período eleitoral, respeitando a legislação.
João José (MDB): Declarou que suas emendas foram indicadas e executadas com seriedade e transparência, conforme a lei, e se colocou à disposição para esclarecimentos.
Claudio Ferreira (PL): Ressaltou que a destinação da emenda foi feita dentro da moralidade e legalidade, nunca autorizou que seu nome fosse mencionado e que a emenda não teve cunho eleitoral. Disse que cabe aos órgãos competentes fiscalizar.
Gilberto Cattani (PL): Negou qualquer envolvimento com atos ilícitos, afirmando que sua inocência será provada e que apoia a punição de criminosos.
Julio Campos (União): Manifestou apoio à operação, mas desautorizou o uso de seu nome e imagem associados a ela, alegando não ter sido notificado judicialmente. Afirmou que suas emendas visam saúde e educação.
Diego Guimarães (Podemos): Em nota, alegou não ter destinado qualquer emenda ao Pronatur, considerando um pedido da entidade um equívoco. Afirmou não ter indicado beneficiários ou participado de entregas.
Dr. Eugênio (PSB): Disse desconhecer benefícios a agricultores em período eleitoral e que não houve destinação de emenda impositiva em ano eleitoral.
Wilson Santos (PSD): Defendeu a legalidade das emendas parlamentares e afirmou que a execução é responsabilidade das secretarias estaduais. Reforçou que irregularidades devem ser apuradas.
Thiago Silva (MDB): Assegurou que cumpriu rigorosamente a legislação eleitoral e não realizou entregas de equipamentos em período de campanha em 2024.
Dilmar Dal Bosco (União): Sua assessoria informou que o deputado sempre tomou os cuidados legais para não desrespeitar a legislação eleitoral, não participando de entregas em período proibitivo.
Carlos Avalone (PSDB): Sua assessoria afirmou que ele destina emendas à agricultura familiar há anos, obedecendo a legislação e com prestação de contas transparente, e que não houve entregas em período eleitoral. Colocou-se à disposição.
Allan Kardec (PSB): Afirmou não ter sido notificado da investigação e reafirmou a lisura de suas relações enquanto deputado, indicando emendas para o esporte.
Alessandro Nascimento (empresário): Defendeu-se alegando que a Operação Suserano está em segredo de Justiça, que ele não foi indiciado ou denunciado, e que suas empresas não possuem contratos diretos com o Estado de Mato Grosso, mas sim com o Pronatur e uma empresa de ferramentas. Afirmou que sua empresa de esportes não é investigada na Operação Suserano.

Até o momento, os deputados Nininho (PSD), Faissal Calil (PL), Fabio Tardin (PSB) e Juca do Guaraná (MDB) não se manifestaram publicamente sobre as acusações.



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