Símbolos da cultura popular brasileira, festas juninas ganham força com políticas culturais do MinC — Ministério da Cultura



As festas juninas, símbolos da cultura popular no Brasil, recebem investimentos do Ministério da Cultura (MinC) por meio da Lei Rouanet. Em 2025, 45 projetos culturais voltados para ‘arraiás’, quadrilhas e atividades juninas foram autorizados a captar R$ 68,4 milhões, dos quais, R$30 milhões já foram obtidos. As festas estimulam o turismo e a economia local, especialmente no Nordeste, onde têm maior representatividade. 

Já a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, por meio da Diretoria de Culturas Tradicionais e Populares, estabelece parcerias para execução de projetos de festas juninas vindos de emendas parlamentares. Entre 2023 e 2024, elas totalizaram mais de R$8 milhões e contemplaram festejos em estados como Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. 

Reconhecimento e incentivo às tradições culturais são pontos destacados pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. “As festas juninas traduzem a alma do povo brasileiro, unindo tradições indígenas, africanas e europeias em uma celebração única. Valorizar essas manifestações é também preservar nossa história e identidade cultural”, afirma a ministra. 

“A festa junina é um elo entre gerações, uma lente das culturas populares pela qual se insta desesconder a sua invisibilidade e ajuda a fortalecer a identidade cultural”, explica o diretor de Culturas Populares do ministério, Tião Soares. E completa: “Implementar políticas que apoiem, protejam e valorizem essas tradições, é essencial para garantir que a riqueza das manifestações culturais continuem a ser transmitidas e celebradas. Quando investimos nas festas juninas, estamos também investindo na salvaguarda de nossa história, conhecimentos e na união de nosso povo, das comunidades”. 

Em 2024, a quadrilha junina foi reconhecida oficialmente como manifestação da cultura nacional. A Lei Nº 14.900, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Cultura, Margareth Menezes, incluiu o estilo de dança no seleto grupo que engloba também escolas de samba e o forró. A nova lei altera a 14.555, de 2023, que reconhecia as festas juninas, mas não incluía as quadrilhas como manifestação da cultura nacional. 

A mestre em comunicação e sociedade com dissertação que aborda o movimento junino, Elâine Jardim, destaca a importância dessa conquista. “Essa lei é essencial porque valoriza oficialmente uma expressão cultural popular que faz parte da identidade brasileira. No Nordeste, as quadrilhas são parte fundamental dos festejos juninos, e essa valorização se estende a outras regiões onde as festas também são fortes, como no Norte do país. No Tocantins, onde eu nasci, as festas juninas têm papel importante no calendário popular, misturando elementos vindos do Nordeste e das comunidades tradicionais da própria região”. 

Segundo o Mestre Sabá Moura, de Roraima, essas ações são importantes para preservar a cultura e manter a tradição, mas também fortalecem uma cadeia produtiva imensa. “Considero os festejos juninos o maior movimento cultural do Brasil, pela quantidade de grupos que atuam em praticamente todo o país, ficam em atividade o ano inteiro e esse reconhecimento veio para coroar o trabalho que é feito com muito amor e dedicação. Além do espetáculo apresentado, da cadeia produtiva, tem ainda o importante papel social desenvolvido pelas quadrilhas, defende o Mestre Sabá, que fundou há 33 anos a quadrilha Xamego na Roça e integra o Comitê Gestor do Pontão da Rede de Culturas Tradicionais e Populares. 

Originalmente trazidas pelos portugueses no período colonial, como festas dedicadas a São João e São Pedro, nos dias 24 e 29 de junho, respectivamente, as festividades marcam o solstício de verão no hemisfério norte, período de colheita e agradecimento pelos frutos da terra. As festas juninas no Brasil se transformaram ao longo dos séculos, incorporando elementos das culturas indígenas e africanas. 

Estudos recentes evidenciam a influência das tradições indígenas nas celebrações juninas, especialmente no Nordeste. A fogueira, símbolo central das festas, possui paralelos com rituais indígenas, como a bênção do milho novo realizada pelos Guarani Mbyá, marcando o início da primavera. 

A figura de Tupã, demiurgo dos povos Tupi, também se mescla às tradições católicas, sendo associado a São Pedro, guardião do céu. Esses elementos reforçam a riqueza cultural das festas, que integram danças, músicas e culinária de origem ancestral. 

“No Nordeste, há registros de festas realizadas pelos Cariri e Tarairiú celebrando o surgimento das Plêiades em junho. Essas influências dialogam com as culturas indígenas locais e com a musicalidade e culinária africanas, construindo as festas juninas com características próprias em cada região”, conta Elaine.  

Segundo a pesquisadora, eles contribuíram com o simbolismo, o caráter coletivo e os elementos ligados à natureza.  

“As festas juninas mantêm esse sentido de agradecimento à colheita, à fartura e à convivência comunitária, que é típico das celebrações indígenas. Isso sobrevive principalmente no Nordeste e no Norte, onde o ambiente rural e as tradições orais ajudam a manter essas raízes vivas”, completa.  

O milho, por exemplo, é um elemento central herdado das tradições indígenas. A pesquisadora explica que os povos indígenas cultivavam e reverenciavam o milho muito antes da chegada dos europeus, e isso se reflete nos pratos típicos das festas juninas, como pamonha, canjica e bolo de milho. 

Outro elemento simbólico, são as danças em roda e os instrumentos de sopro e percussão, como os pífanos e as zabumbas, têm origem indígena. Isso aparece nas festas populares e arraiais das comunidades, com variações, mas sempre preservando essa relação com a terra, a colheita e a fartura. 



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