Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, Restos de um veículo destruído pelas explosões de quinta-feira (21/08) em Cali Article InformationAuthor, José Carlos CuetoRole, Correspondente da BBC News Mundo na ColômbiaX, @josecarloscueto22 agosto 2025, 05:56 -03Atualizado Há 36 minutos”Hoje foi um dia de morte.”Foi assim que o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, se referiu ao ataque com explosivos que abalou a cidade de Cali e ao abate de um helicóptero da polícia em Amalfi, no Departamento (Estado) de Antioquia, ocorridos na quinta-feira (21/08), deixando pelo menos 19 mortos, seis civis e 13 policiais, segundo as autoridades locais.Na ausência de um balanço definitivo, a prefeitura de Cali informou que pelo menos 65 pessoas ficaram feridas no ataque a bomba.O presidente vinculou este ataque e o de Antioquia a dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).”Após a derrota da coluna Carlos Patiño, com a perda de grande parte do Cânion Micay, temos uma reação terrorista em Cali”, escreveu Petro no X (antigo Twitter).Antes, na mesma rede social, o presidente atribuiu o ataque ao helicóptero policial à Frente 36 do Estado-Maior Central (EMC).Nenhum desses grupos armados assumiu a autoria dos ataques.Os incidentes aconteceram em meio a repetidos questionamentos sobre a política de “paz total” de Petro.Vozes da oposição associam essa política, que prometia mais diálogo e conciliação com grupos armados, à deterioração da segurança na Colômbia que, embora não esteja nos níveis de décadas atrás, afeta a percepção dos cidadãos.Crédito, IUSEF SAMIR ROJAS/AFP via Getty ImagesLegenda da foto, O ataque em Cali acontece dois meses após uma onda mortal de ataques na mesma cidadeO que aconteceu em Cali?De acordo com a polícia, o ataque desta tarde em Cali, realizado com cilindros-bomba, tinha como alvo a base aérea Marco Fidel Suárez, no norte da cidade.Testemunhas no local disseram à agência de notícias AFP que ouviram explosões perto da base, que havia muitas pessoas feridas e que várias moradias foram danificadas.Vários edifícios foram evacuados, e a prefeitura anunciou o fechamento de ruas e restrições ao tráfego.Na mesma área, foi detectada a presença de uma van com cilindros-bomba em seu interior, embora tenha sido descartado posteriormente que estivessem carregados.Crédito, AFP via Getty ImagesLegenda da foto, A polícia de Cali procurou explosivos em outros veículosO prefeito da cidade, Alejandro Eder, ofereceu uma recompensa de até 400 milhões de pesos (cerca de R$ 545 mil) “a quem fornecer informações que permitam identificar e capturar os responsáveis”.O Vale do Cauca, Departamento colombiano cuja capital é Cali, tem sido alvo frequente de ataques nos últimos meses.No dia 10 de junho, também foi atribuída ao EMC a responsabilidade por uma onda de explosões e ataques armados em Cali que resultaram em sete mortes.Outros 12 atentados ocorreram no Departamento vizinho de Cauca, deixando oito mortos.Esta região do país abriga várias dissidências das Farc, facções herdeiras do paramilitarismo e do Exército de Libertação Nacional (ELN).Todos esses grupos disputam o controle territorial e travam uma luta armada entre si e contra o Estado colombiano.Cali é a terceira cidade mais populosa da Colômbia, com cerca de 2,2 milhões de habitantes.Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, O helicóptero da polícia teria sido abatido por drones (Foto de arquivo)O que se sabe sobre queda de helicóptero?Horas antes das explosões em Cali, o diretor-geral da polícia, Carlos Fernando Triana, havia classificado como “ação terrorista” o abate do helicóptero policial em Amalfi, em Antioquia, no qual morreram 13 policiais.Segundo Triana, a ação foi “contra um grupo de policiais que realizava tarefas de pulverização terrestre de plantações ilícitas e contra uma aeronave da instituição”.De acordo com a emissora de rádio W, o ataque com drones ocorreu enquanto o helicóptero “se dirigia para apoiar um grupo de policiais que realizava tarefas de erradicação manual de plantações ilícitas”.Grupos dissidentes das Farc e do autodenominado Exército Gaitanista da Colômbia (EGC), mais conhecido como Clã do Golfo, também operam em Amalfi.O ataque contra o helicóptero e os policiais foi atribuído ao EGC pelo ministro da Defesa, Pedro Sánchez, enquanto o presidente Petro o vinculou a dissidentes das Farc.O governo Petro, que vai terminar seu mandato em agosto de 2026, manteve negociações de paz com vários grupos armados, incluindo o EGC, dissidentes das Farc e o ELN, embora estas últimas estejam suspensas.Enquanto essas negociações acontecem, especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, destacam que vários grupos armados se “fortaleceram nos últimos tempos”, especialmente em termos de controle territorial e economias ilícitas.Quem são os possíveis responsáveis pelos ataques?Segundo a imprensa local, moradores detiveram um homem desarmado que tentava fugir do local das explosões em Cali.Mais tarde, o presidente Petro publicou em sua conta no X que se tratava de um indivíduo identificado como Sebastián, suposto integrante de uma estrutura do EMC comandada por Iván Jacob Idrobo, conhecido como Marlon.Em coletiva, Petro disse que o atentado foi cometido por “duas pessoas, sem armas, mas carregadas de explosivos, que fugiram assim que um dos caminhões foi detonado, e que a população ajudou a capturar no bairro vizinho”.A Procuradoria colombiana informou que “dois homens que teriam participado da ativação dos explosivos” em Cali foram colocados à disposição da instituição.Segundo a Procuradoria, “a informação preliminar aponta para uma possível autoria da estrutura Jaime Martínez, das dissidências das Farc”.A entidade também investiga as estruturas criminosas envolvidas na queda do helicóptero.”As primeiras diligências já apresentam provas que vinculam o Frente 36 do autodenominado Estado-Maior Central das dissidências das Farc”, afirmou a Procuradoria no X.Atualmente, restam múltiplas dissidências fragmentadas das Farc, surgidas após o acordo de paz de 2016.Como reagiu o governo?Crédito, Getty ImagesLegenda da foto, A política de segurança da Petro está sendo amplamente questionadaApós os ataques, o presidente Petro viajou a Cali, onde se reuniu com altos comandos militares e ministros de seu governo.O ministro do Interior, Armando Benedetti, chegou a mencionar a possibilidade de instaurar um “estado de comoção interior”, mas a ideia foi descartada pelo presidente no mesmo dia.Foi criado um Posto de Comando Unificado (PMU) para coordenar a resposta à emergência.Segundo o jornal El Tiempo, haverá reforço da presença militar na região.O prefeito Eder afirmou que o objetivo do PMU será recuperar áreas do sul do Valle del Cauca.Em resposta aos ataques, Petro anunciou que guerrilheiros dissidentes das FARC leais ao líder Néstor Gregorio Vera — grupo conhecido como “Segunda Marquetalia” — e o maior cartel do país, o Clan del Golfo, seriam declarados “organizações terroristas”.Como reagiu a oposição?Após os ataques de quinta-feira, que até agora não parecem estar relacionados, os opositores do governo Petro, como o partido Centro Democrático, fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, questionaram duramente a gestão da área de segurança do atual presidente.”Enquanto a segurança do país se deteriora de forma alarmante, o governo Petro concentra seus esforços e os recursos do Estado em proteger os criminosos das Farc e do ELN com o argumento dos diálogos da ‘paz total'”, afirmou o partido no X.Na mesma linha, o ex-presidente César Gaviria, diretor do Partido Liberal, disse em uma carta que “é evidente que a chamada política de paz total do governo de Gustavo Petro fracassou em seu objetivo de reduzir a violência”.Petro se defendeu mostrando um gráfico da Polícia Nacional que indica que a taxa de homicídios sob seu governo é consideravelmente menor do que a de governos de décadas atrás, incluindo o de Gaviria.A menos de um ano das eleições presidenciais, a polarização da política colombiana gira cada vez mais em torno da segurança, que preocupa cada vez mais muitos cidadãos.Colômbia enfrenta uma nova crise de segurança?Crédito, AFP via Getty ImagesLegenda da foto, A morte de Uribe Turbay lembrou uma das épocas mais sombrias de violência na ColômbiaDesde o início de 2025, os colombianos observam com preocupação um agravamento da violência, manifestada em imagens que muitos acreditavam terem sido superadas.Embora a Colômbia tenha vivido anos de relativa calma, guerrilhas, paramilitares e cartéis ainda controlam áreas do país.Nos últimos meses, porém, a violência aumentou, em sinal de que os grupos armados recuperaram força e capacidade para coordenar ataques complexos.Cresce o temor de um retorno à violência das décadas de 1980 e 1990, marcadas por ataques de cartéis, confrontos guerrilheiros e assassinatos políticos.No entanto, analistas ouvidos pela BBC News Mundo ponderam que, apesar da tendência preocupante, a violência atual está longe daquela intensidade.Em janeiro, uma crise humanitária eclodiu na região de Catatumbo, na fronteira com a Venezuela, quando uma escalada militar entre o ELN e a Frente 33 das dissidências das Farc deixou pelo menos 117 mortos e mais de 60 mil desalojados.Esse episódio coincidiu com vários confrontos mortais em Cauca, Guaviare, no sul de Córdoba, em Magdalena Medio e Cesar, todos cenários de confrontos entre grupos armados que lutam pelo controle territorial.Jorge Mantilla, que tem doutorado em criminologia pela Universidade de Illinois em Chicago, especialista em temas como crime, segurança e conflito colombiano, já havia advertido sobre uma “implosão” da política de segurança de Petro em uma entrevista à BBC News Mundo.Meses depois, em 7 de junho, o pré-candidato à presidência e senador da oposição Miguel Uribe Turbay foi baleado durante um ato público em Bogotá, morrendo no hospital na madrugada de 11 de agosto.A morte dele foi o primeiro assassinato de um líder político na Colômbia nas últimas três décadas.
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